sábado, março 29, 2008

Sintonia


Caem as letras, uma a uma...
Cai a nossa roupa, espalha-se pelo chão,
Rebolam os versos nos nossos corpos
Em alegre sintonia.
Sinto-te na minha carne, quente...
Entras devagar, dentro de mim
E sacias-me a fome e o querer.

Transpiras-me,
Inspiras-me!

Realizo-te as fantasias mais loucas
Numa entrega indiscreta,
E quente, ardente...
Tomo-te e imaginas-me tua.
Inventamos caminhos indecentes
Para percorrermos juntos
E chegarmos, loucamente, ao fim

Inspiras-me!
Transpiras-me!

Vera Silva

sábado, março 22, 2008

Verso Ausente


Nas saliências dos segredos

Ouvem-se os brados longínquos

Das vozes passadas

Que nos restam na memória

E nos marcam o espírito.

Profusas palavras

Ecoam pelos sentidos

Vazando a razão

E preenchendo o sonho,

E, num verso ausente,

Entregamo-nos unos,

Inquietos, perfeitos...

Silenciamos o compasso

Do coração perene,

E nada nos resta,

Para além da vida e do amor.

Vera Silva

segunda-feira, março 17, 2008

Se eu pudesse...


As ruas estavam desertas, embaladas pelo gritar da chuva gelada naquela tarde de Inverno.
Em frente à lareira desfolho o álbum da nossa vida, folha por folha, foto por foto... O silêncio é cortado apenas pelo soluçar da solidão e pelos gemidos da saudade.
Faz tanto tempo que partiste e não há forma desta dor acabar ou morrer mais um pouco. Pelo contrário, está cada vez mais viva, mais ardente, mais louca! Louca como eu, por te amar tanto e mesmo assim deixar-te ir...
Se eu pudesse, meu amor, hoje o sol brilharia quente para nós dois, aquecendo ainda mais o nosso beijo e as nossas almas seriam apenas uma!
Se eu pudesse mergulhava na coragem e gritava que quero loucamente que sejas meu, só por hoje!
Se eu pudesse voltava atrás... agarrava-te na mão e pedia-te que ficasses e não seria preciso dizer-te nada, porque tu entenderias tudo lendo os meus olhos e adivinhando os meus gestos que sempre te seguiram...
Se eu pudesse e tivesse coragem iria até à janela... O grito da chuva chama-me e nesta tarde de Inverno seria uma boa tarde para me deixar embalar pelo vento.


Vera Silva

sexta-feira, março 14, 2008

Morte na Escola



À memória de João Rui Barata Aniceto


Chamava-se João e tinha um sorriso fantástico.
Era o filho de sonho para qualquer pai e mãe.
Era o estudante que todos os professores sonham ter, pela inteligência e pelo primor das suas atitudes e comportamentos.
Era o melhor amigo de Todos.
Um apaixonado pela música.
Um jovem bem formado, educado e reflexo dos valores irrepreensíveis transmitidos pelos pais.
Estava na última aula de educação física do período, alegre e divertido, como sempre o conheci e disse à professora: “Estou mal disposto Professora”. E caiu.
O que se seguiu eleva ao expoente máximo a luta contra o desespero.
Eleva ao mais alto sentimento de impotência o darmos tudo de nós e sentimos que a vida se esvai aos poucos a cada minuto que passa.
Passam-se 30 minutos e o socorro não chega e o desespero aumenta. Tentamos em vão a reanimação cardíaca, sempre, sempre sem parar até à exaustão.
A escola pára.
O desespero e angústia cresce e cresce. E a vida perece.
Chamava-se João.
Partiu ontem e com ele leva a dor das centenas de colegas e professores;
Uma escola que chora esta morte.
O Montijo está de luto.
Mergulhado na dor.
Numa mágoa sem igual.
Com a revolta de jamais compreendermos a razão pela qual o INEM demorou 30 minutos (TRINTA MINUTOS!!!!!!) para accionar o socorro quando o CODU (Centro Operacional de Doentes Urgentes) sabia que estava um jovem de 14 anos em paragem cardiorrespiratória… E pior!Hoje vem o INEM a público reconhecer a demora porque ontem, dia 13 de Março, receberam muitas chamadas…
E assim se foi uma Vida!!!
Chamava-se João e partiu.
Estás nos nossos corações meu querido.

Descansa em paz meu Anjo.



Este texto é da autoria da FLY, uma professora que conheceu este Anjo e que revela bem a sua revolta, que é também a de todos nós!

domingo, março 09, 2008

Abismo

Amar loucamente,
Nas ausências dos beijos
E no silêncio da alma.
Amar por amar,
Sem nada exigir
Para além do sonho.
Entregar o coração
Envolto em papel de seda
E aguardar,
Junto do abismo
Que uma mão nos ampare
Ou empurre de vez,
Mergulhando no mar da morte
Para que se viva finalmente
A ansiada felicidade
Do secreto desejo.
Vera Silva

domingo, março 02, 2008

Amor... Sem ti


Escuto o teu dormir

Nas madrugadas silenciosas

Que me ferem a alma de saudades.

Roubo-te beijos em sonhos

E guardo-os, como tesouros,

Por trás do luar

Com que me visto para ti.

Não me vês...

Mas estou aqui,

E sinto cada gesto

Como se fosse meu.

Sei o gosto desse beijo

Que nunca me darás,

E sinto o teu abraço

Que me tira da solidão

Por breves instantes...

Sei que é amor,

Sem desejos secretos

Para além de te amar,

Sem mentiras nem esconderijos,

Sem loucas demências,

Sem ti...
Vera Silva